segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sentimento de Mazaganense


Das muitas alegres certezas que o típico mazaganense tem em sua  vida, está  a de que, no dia 25 de Julho, em Mazagão Velho, haverá um missa, haverá uma procissão e haverá  uma batalha...
Veremos e ouviremos novamente a narrativa da guerra santa, com os ilustres São Tiago e São Jorge, garbosamente vestidos, sempre alertas, em seus cavalos, conduzindo uma enorme quantidade de pessoas no Círio matinal. Fitaremos compadecidos as crianças raptadas pelos mouros mascarados, bem ali, nas nossas vistas, para depois trocá-las por dinheiro ( que pode muito bem ser apenas folhas secas caídas  das  mangueiras seculares).Estaremos de novo atentos aos presentes envenenados, enviados pelos mouros e retornados a estes pelos cristãos. Mais uma vez cantaremos nas novenas e rezaremos as ladainhas em latim.
Lembraremos de avisar as damas que no Baile de Máscaras não é permitida a participação de mulheres, e, a bem da verdade, as poucas que já tentaram driblar esta regra, geralmente foram descobertas e retiradas do salão. Isso sem mencionar a tão esperada passagem do Bobo Velho, com nossos bagaços de laranja recolhidos e armazenados para arremessar em seu cavalo.
Ano após ano, esta é a programação do calendário mental de cada pessoa que cresceu tendo o mês de Julho como o marco referencial das memórias vívidas de vários “São Tiagos”.  O mês de julho nem bem começa e as famílias já entram na expectativa da espera. As que moram em Mazagão Velho sentem o alvoroço com o início dos preparativos. Já as famílias que migraram para outros municípios do Estado (e que são muitas!) iniciam a organização da mudança de endereço que realizarão neste período. O fato de ocorrer nas férias escolares concorre grandemente para a afluência de pessoas, que aumenta ano após ano.
Também virão as pessoas para desenvolver atividades comerciais, tais como parques, tiro ao alvo, vendas de bijuteria, roupas, alimentos, brinquedos, entre outros. Isto sem falar nas festas dançantes, shows musicais, leilões, bingos dançantes, etc. Não poderia deixar de mencionar o banho de rio, nas margens do Rio Mutuacá, um mergulho nas águas inesquecíveis, mas que deixam várias mães preocupadas com a insistência dos pequenos em ficar por lá o maior tempo possível.  
Nesta bagagem de devoção, não pode ficar de fora a contribuição espontânea de cada família aos preparativos da festa, tão nossos conhecidos: balões coloridos, tinta para as faixas, tecido, barbantes, papel picado, bolachinhas, Nescau, suco, refrigerantes, bombons, apitos e mais recentemente, banners, abanadores  e um Sky-paper!
Na lista pré-Glorioso também não pode faltar a roupa nova para os adultos e crianças, e se for menino, evidentemente, um traje encomendado de mouro ou cristão e ainda o cavalinho de miriti, enfeitado de papel de seda ( a ser usado nos dias 27 e 28, no São Tiago das crianças). Em nossas memórias mazaganistas, já está gravado perenemente o eco das caixas, tocados em diversos destes momentos, assim como a música da dança do vominê e também as guitarradas inconfundíveis que embalam o Baile de Máscaras.
Estes são apenas alguns dos aspectos que a cada ano servem de pano de fundo para algo bem mais abrangente: a certeza do encontro com o Divino, simbolizado pela devoção que atravessou gerações; a certeza de que há um enorme sentido em cultuar a memória honrosa dos que se fizeram heróis em defesa da fé, algo fundamental a vivência humana. E viva o Glorioso São Tiago!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

POR QUE VOCÊ, PROFESSOR, PRECISA SABER O QUE SIGNIFICA TEA?




Não, não é o novo astro da pedagogia que vai revolucionar a prática de sala de aula, mais uma vez. Nem é também, um dispositivo legal que irá melhorar nossos salários. Trata-se da sigla, em português, para Transtornos do Espectro do Autismo. Diferindo da ideia que perdurou por muitos anos, o autismo não se resume às manifestações mais graves, comumente vistas nas descrições dos livros e manuais. Ele tem nuances, “escalas” por assim dizer.
Quer dizer que alguns dos alunos que já tivemos, poderiam ser, sim, pertencentes ao TEA, sem que nós nos déssemos conta disso. Poderiam, sim!
Ah se soubéssemos! Que faríamos mesmo? Este é o grande dilema: como lidar com as diferentes formas de manifestação dos “Autismos”, uma vez que sequer conhecemos todas as características deste transtorno de desenvolvimento.
Talvez um passo importante seja buscar estar preparado para reconhecer as características mais comuns, que vão desde simples tiques motores, repetições de frases e palavras (ecolalia) ,diferença na percepção sensorial de: sons (hiperacusia), toques e estímulos visuais, cheiros e sabores, dificuldade nos relacionamentos sociais, rituais de alimentação e apego a rotinas entre outros,  até as características mais graves, como automutilação, isolamento, mutismo e surtos de agressividade.
A busca e a adesão dos pais aos atendimentos necessários, oferecidos nas escolas regulares e nos Centros de Atendimento Especializado, permitem a diminuição  de muitas dificuldades que estas crianças podem apresentar.
Nossa atitude de educadores, neste sentido, faz toda a diferença, pois muitos pais beiram ao desespero quando deparam-se com a realidade do autismo, ainda relacionando-o a uma imagem de apatia e isolamento, muito comum ao que as gerações de educadores que nos antecederam viram passar, por vezes sem perceber  que poderiam ter contribuído para amenizar tais dificuldades.
Minha sugestão: buscar mais conhecimento acerca deste transtorno, que sempre existiu em grande número, mas que hoje já se torna muito mais “reconhecível” e saber, que, mais cedo ou mais tarde, o autismo vai bater à porta de sua sala de aula, e não vai poder esperar que você  vá procurar mais informações!
Afinal, trabalhar a educação na diversidade, não é apenas mais uma opção: a prática da inclusão em cada segmento da sociedade é o caminho natural de um país que se pretende democrático. (Nell Pureza)

domingo, 17 de março de 2013


FESTEJOS EM LOUVOR AO PADROEIRO SÃO JOSÉ DE MACAPÁ CONTINUAM

do blog de joaosilvaap

As comemorações começaram  dia 24 de fevereiro com a celebração de missa em ação de graça na nova catedral, na General Rondon e vão continuar neste domingo, 17 de março. Na parte religiosa prossegue o novenário que começa às 18h30 na velha catedral, com a celebração de Dom Pedro Conti e a presença da comunidade paroquial, a convidada da noite, no aniversário de dedicação da  igreja mais antiga do Amapá. Amanhã, dia 18/03, o novenário será encerrado, com a celebração do Pe. Fábio tendo como convidado a DSC00542comunidade da Igreja de Santo Antônio. No dia 19, a programação religiosa será intensa, com missa solene e procissão em honra ao Paroeiro de Macapá e do Estado Amapá. No dia de hoje, 17/03, a movimentação na Arraial de São José, após a novena rezada por Dom Pedro Conti, na Mário Cruz, sao-jose_1promete! A programação com palco, barracas de lona armadas diante da igreja, ao lado do Bacabeiras, com venda de comidas típicas, shows gospel, samba, batuque e marabaixo começou no dia 14 e vai até o dia 19, terça-feira. Até ontem estava sendo anunciado uma tração gospel nacional para este domingo, o que até ainda a pouco não havia sido confirmado pela organização dos festejos, aos quais encontra-se integrada a Confraria Tucuju e outras entidades que valorizam a história e as tradições do povo de Macapá. Ir à novena e depois passear no Arraial do Padroeiro, na Mário Cruz, beber um refrigerante, comer uma pipoca, curtir um vatapá, a maniçoba da Cesarina ou conferir o show das bandas locais e da atração nacional prometida, não deixa de ser um bom programa para a família inteira, que com isso ainda colabora para as obras sociais da Diocese de Macapá (JS).

domingo, 16 de dezembro de 2012

VAMOS AO TEATRO DAS BACABEIRAS 21 DE DEZEMBRO 18:00 HORAS




                                            PASTORINHAS DE MAZAGÃO VELHO
Rica em tradições e festas populares, a comunidade de Mazagão Velho apresenta no dia 21 de dezembro às 18:00 no Teatro das Bacabeiras o Cordão Natalino das Pastorinhas. O elenco –formado por crianças, jovens e adultos da própria comunidade e de seus descendentes, que moram em Mazagão Novo, Macapá e Cutias do Araguari  – já ensaiaram suas personagens e estão prontos para mostrar o espetáculo em 33 atos ao povo de Macapá.

O cordão é similar às representações das peças pastoris, lapinhas e presépios vivos, introduzidos no Brasil pelos jesuítas no século XVI, que durante a catequização dos índios montavam peças teatrais de representação do nascimento de Jesus.
A peça foi trazida para Mazagão Velho pelas então jovens moradoras Ana Ayres Lopes e Dica Flexa, que assistiram aos ensaios de um grupo de alunas do colégio Santo Antonio, em Belém, em 1909. Depois a reproduziram no mesmo ano na vila, com suas canções e diálogos. O cordão tem forma de um auto de natal e vai, então fazer 103 anos.

PASTORINHAS

A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor

Linda pastora
Morena da cor de Madalena
Tu não tens pena
De mim que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar


TEATRO DAS BACABEIRAS, 21 DE DEZEMBRO DE 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vinte passos para combater a indisciplina com alunos



1 - Estabeleça regras claras
2 - Faça com que seus alunos as compreendam
3 - Determine uma sanção para a quebra das mesmas
4 - Determine uma recompensa para seu cumprimento
5 - Peça apoio de seus colegas de equipe
6 - Estabeleça estratégias em conjunto com a equipe; os alunos precisam perceber a hegemonia das atitudes
7 - Respeite seus alunos
8 - Ouça-os
9 - Responda ao que lhe for perguntado com educação e paciência
10 - Elogie boas condutas
11 - Seja claro e objetivo em suas intervenções
12 - Deixe claro que o que é errado é o comportamento, não o aluno
13 - Seja coerente em suas expectativas
14 - Reconheça os sentimentos de seus alunos e respeite-os
15 - Não lhes diga o que fazer; permita que cheguem às suas próprias conclusões
16 - Não descarregue a sua metralhadora de mágoas em cima deles
17 - Encoraje sempre
18 - Acredite no potencial de cada um e no seu
19 - Trabalhe crenças negativas transformando-as em positivas
20 - Seja afetuoso(a) 

DSM-IV e CID-10


Consulta interactiva da DSM-IV e CID-10 nas suas versões completas em língua portuguesa (Brasil).
 
Os conteúdos desta secção são apresentados por:
Nota: Ambos os recursos estão em Português do Brasil
 


DSM-IV - Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais
 
O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais é uma publicação da American Psychiatric Association, Washington D.C., sendo a sua 4ª edição conhecida pela designação “DSM-IV”.
Este manual fornece critérios de diagnóstico para a generalidade das perturbações mentais, incluindo componentes descritivas, de diagnóstico e de tratamento, constituindo um instrumento de trabalho de referência para os profissionais da saúde mental.
Desde a publicação original da DSM-IV em 1994, observaram-se já muitos avanços no conhecimento das perturbações mentais e das doenças do foro psiquiátrico. Neste sentido, existem já várias publicações que incorporam os resultados das investigações mais recentes, com destaque para a DSM-IV-TR. Para mais informações visite o website da American Psychiatric Publishing, Inc. (APPI).
 
CID-10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde
 
A 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças adoptou a denominação "Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde" sendo, na prática conhecida por "CID-10".
Esta Classificação foi aprovada pela Conferência Internacional para a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças, convocada pela Organização Mundial de Saúde, realizada em Genebra no ano de 1989, tendo a CID-10 entrado em vigor apenas a 1 de Janeiro de 1993, após a necessária preparação de material de orientação e formação. A sua implementação em Portugal ocorreu antes do ano 2000, sendo já utilizada nas estatísticas oficiais de saúde.
O copyright da CID-10 pertence à Organização Mundial de Saúde - OMS.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Meu Glorioso São Tiago, valha-nos sempre!





Festa do Divino Espírito Santo de Mazagão Velho

Coroação da Nova Imperatriz



Ao fundo, a derrubada do Mastro do Divino


Novena rezada em Latim, em Mazagão Velho, é assim!

Tia Joaquina, conduzindo as rezas e cantos da Novena

A Pomba Branca, que simboliza o Divino Espírito Santo
A Festa do Divino é uma festa religiosa que surgiu em Portugal no início do século XIV. O "divino" do nome da festa se refere ao Divino Espírito Santo, porque nessa data a Igreja Católica comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, os 12 discípulos de Jesus Cristo.
A devoção ao Espírito Santo se espalhou rapidamente pelo país e chegou ao Brasil através dos jesuítas, no século XVI.
A festa original tinha um "Imperador do Divino" (criança ou adulto escolhido para "presidir" a festa) que tinha poderes de um rei de verdade: durante a festa, podia libertar presos da cadeia!
A procissão do Divino podia percorrer uma região inteira, levando a Bandeira do Divino, que mostra uma pomba branca no centro. Essa procissão podia levar meses. Hoje, costuma-se fazer um trajeto menor, de um ponto a outro de uma cidade.
A Festa do Divino era tão importante, no Brasil do século XIX, que "o título de Imperador do Brasil foi escolhido, em 1822, pelo ministro José Bonifácio de Andrada e Silva, porque o povo estava mais habituado com o nome de Imperador (do Divino) do que com o de Rei" (trecho tirado do Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, 9ª edição, Editora Global, 2000).
Hoje, cada região do Brasil tem um nome para essa festa: Império do Divino, Festa do Espírito Santo, Folia do Divino e outros. A festa é móvel, isto é, não tem um dia certo: 40 dias depois do Domingo da Ressurreição é a "quinta-feira da Ascensão do Senhor"; dez dias depois é o Dia do Divino.
Em geral, primeiro começa-se a rezar, dias antes, novenas e ladainhas. A Folia do Divino percorre então a cidade pedindo donativos. A bandeira do Divino é hasteada. Toda a cidade fica coberta de bandeirinhas e estandartes brancos e vermelhos.
No dia de Pentecostes, o ponto alto da festa, saem em procissão o imperador, a imperatriz e toda a Corte imperial, além de pessoas que representam a Virgem Maria, as qualidades do Espírito Santo e os apóstolos. Várias crianças participam da festa, formando a Roda dos Anjos e carregando o estandarte do Divino. No fim da festa, 24 homens a cavalo lutam como se fossem mouros (ou seja, muçulmanos, que têm uma fé diferente da católica) e cristãos em guerra.
No Brasil, uma das maiores Folias do Divino acontece em Pirenópolis, em Goiás; outras festas famosas são a de Paraty, no Rio de Janeiro, e a de São Luís do Paraitinga, em São Paulo.
Uma música típica dessa festa diz assim:
"Vinde, oh, Espírito Divino
Consolador, descei lá dos Céus
A dar-nos riquezas do Vosso amor.
Descei lá dos Céus
A dar-nos riquezas do Vosso amor."
Aqui no Amapá, temos diversas festas do Divino, inclusive a nossa, em Mazagão Velho que preserva diversas características das manifestações encontradas Brasil afora. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Conheça um pouco da história real do Bar Cabloco


Especial: O "popular" Bar Caboclo

"O Bar Caboclo nunca serviu como pista de dança e muito menos chegou a ser hospedaria de prostitutas."
O Bar Caboclo foi um ambiente comercial que se tornou conhecido na Macapá de outrora (década de 60), com suas histórias e boemias, que serviram de inspiração para a montagem de consagrada peça de um dos grupos de teatro do Amapá.
Seus frequentadores eram caboclos vindos das ilhas do Pará, nas embarcações que aportavam na Doca da Fortaleza, trabalhadores da ICOMI e da Usina Coaracy Nunes, no Paredão. Nessa época os estilos musicais eram o bolero, o samba e o merengue, por influências das Antilhas e da Guiana Francesa. Haviam também as figuras femininas que marcavam ponto no local.
Você vai conhecer agora, a reprodução (com as devidas adaptações e atualizações) de uma matéria publicada em 1995, pelo jornal Folha do Amapá. O texto é assinado por Cláudio Mendes:
A VERDADEIRA HISTÓRIA DO BAR CABOCLO
Bastou apenas a decisão de um comerciante para que uma história de mais de quatro décadas chegasse ao fim e deixasse estampada a tristeza no rosto de seus protagonistas.
(Foto: Reprodução de jornal/Arquivo Rogério Castelo)
O popular Bar do Chico, localizado na esquina da rua São José com a avenida Mendonça Júnior, foi demolido em 1995, para dar lugar à uma edificação moderna (foto mais abaixo).
Com isso, o que restava da memória viva do velho Bar Caboclo deixa de existir e a esquina da boemia passa a ser a esquina da saudade.
Local de mulheres extrovertidas e homens valentes, o Bar do Chico era o único sobrado de madeira no centro comercial da cidade que vinha resistindo ao progresso. O ambiente era movimentado de domingo a domingo e no período de pagamento a freguesia aumentava. Todos sabiam que naquele velho sobrado a profissão mais antiga do mundo ainda podia ser exercitada à moda antiga.
Como nos velhos tempos em que se usava o palavreado “cabelo, barba e bigode” para deixar subtendido que as prostitutas topavam tudo com o freguês. Resumindo, o Bar do Chico era, de fato, resquício do Bar Caboclo, cuja história ninguém conta melhor que seu próprio fundador, Abrão Serrão de castro. Na época, aos 73 anos de idade (Jornal de 1995), ele relatou o quanto foram importantes para ele aqueles anos boêmios.
O INÍCIO DA HISTÓRIA
No final dos anos 40, um homem vindo da cidade de Mazagão Velho resolveu montar um negócio. Comprou a área onde funciona atualmente a sede do Sindicato dos Bancários e lá montou uma venda, construída em madeira. Um ponto comercial simples, porém, bem equipado. Lá tinha confecções, picolé, sorvete, produtos alimentícios, suco, refrigerante, aguardente e um nome sugestivo: Bar caboclo. Abrão havia despertado a atenção do povo de uma simples cidade onde quase não havia entretenimento e tudo era novidade.
(Foto: Reprodução/Arquivo)
O bar ficava em área alagada, onde pontes de madeira serviam como passarela para o vai-e-vem dos dias e das noites.
O novo ponto comercial da cidade foi visto como uma mina de ouro por mulheres que sobreviviam da prostituição. Não havia local melhor na cidade para se conseguir fregueses. Ali próximo atracavam todas as embarcações que chegavam à Macapá trazendo caboclos ribeirinhos e também marinheiros estrangeiros que ao desembarcarem faziam logo procuração pelo bar.
De acordo com Abrão, o Bar Caboclo nunca serviu como pista de dança e muito menos chegou a ser hospedaria de prostitutas. Segundo ele, o que não faltavam eram quartos naquelas imediações para que elas desenvolvessem suas atividades.
“Eram apenas minhas freguesas. Me davam certo problema porque afastavam outro tipo de freguesia. Mas não poderia proibí-las de entrar no bar, mesmo porque elas também me davam lucro”, contava pensativo.
O proprietário do bar tinha lucro com as prostitutas porque quando um freguês se engraçava com alguma delas não tinha pena de esbanjar dinheiro. Abrão cita um costume das frequentadoras de seu bar: “Adoravam pedir para os caboclos pagarem cerveja para elas e me diziam no ouvido para eu esquecer a bebida e entregá-las o dinheiro mais tarde. Nunca gostei disso”.
Quando os marinheiros não tinham dinheiro para pagar o serviço de bar e o serviço das mulheres, sempre deixavam joias para cobrir a dívida. Abrão exibiu, durante a entrevista, um anel que recebeu de um gringo. Quanto aos caboclos, esses, quando não tinham dinheiro para cobrir suas despesas, o dono do bar até que aceitava um pagamento posterior. Mas com as prostitutas não tinha acordo. A pancada comia no centro e a Guarda Territorial entrava em ação.
O bar enfrentava outros problemas. Macapá era abastecida de energia das 22h até às 6 da manhã. Por determinação da Guarda Territorial o ponto poderia funcionar apenas até a meia-noite. “Era a época em que tínhamos como Governador Evanhoé Gonçalves Martins e havia um delegado de polícia chamado Ismar Leão que não dava mole. Ninguém ficava fora de casa depois da meia-noite”, enfatizava Abrão.
UM NOVO BAR
O ponto comercial de Abrão deu certo e em três anos ele inaugurou um outro bar, todo em alvenaria, muito mais equipado e pintado em cor rosa.
(Foto: Reprodução/Arquivo)
Prédio do extinto Bar Caboclo que localizava-se da esquina da Rua São José com a Av. Mendonça Jr. (a mesma do canal). No local - ampliado e adaptado - funciona hoje um mini-box explorado por um dos filhos do proprietário, pois o prédio é patrimônio da família.
No seu interior tinha uma gravura, de um casal de índios, feita pelo pintor Herivelto. Era um prédio, segundo Abrão, bastante chamativo. Haviam poucos como aquele na cidade. O empreendimento mudou de cara e de local, mas o nome permaneceu o mesmo.
Agora o bar caboclo passava a funcionar onde está localizada atualmente (2011) um Mini Box. A freguesia aumentava mais ainda. Em menos de uma hora de funcionamento o comerciante conseguia vender quase quatro grades de cerveja. O bar já era frequentado até por pessoas consideradas da “alta”, mas alguns homens não admitiam que suas mulheres pisassem no local. Há um antigo comentário de que um radialista da Rádio Difusora de Macapá chegou a ir buscar sua esposa aos tapas na porta do bar. Ali também era considerado o ponto da fofoca. Depois de alguns copos de cerveja, os homens costumavam fazer comentários sobre os casos de adultérios da cidade. Outro assunto de mesa de bar era virgindade. Todos pareciam saber quais as garotas que eram e as que não eram virgens.
(Foto: Reprodução de jornal/Arquivo Rogério Castelo)
Nas fotos (acima e abaixo à esquerda), na cerimônia de discerramento da fita, o casal Jacy Barata Jucá e sua esposa Dona Alice de Araújo Jucá.
(Foto: Reprodução de jornal/Arquivo Rogério Castelo)
Com o passar dos anos foram aparecendo outros estabelecimentos comerciais na cidade como as boates Merengue e Suerda. Como tudo o que aparecia em Macapá era novidade, essas casas chegaram a roubar a freguesia do Bar Caboclo. A Suerda funcionava como prostíbulo e suas prostitutas tinham fama de ser bonitas. Muitas vinham de outros estados para disputar o mercado com as amapaenses do Bar Caboclo. Mas essa concorrência não foi fato para prejudicar o sucesso do ponto comercial de Abrão. As frequentadoras do bar caboclo não inflacionavam o preço de seus serviços e recuperavam seus fregueses.
Seria um erro falar sobre o ponto comercial de Abrão sem citar que o bar era uma espécie de reduto dos literatos e jornalistas da época. Muitos deles não iam para o bar com intenção de pegar uma prostituta e levar para um quarto. A movimentação de ir para a cama com alguma prostituta, as brigas, o comportamento de quem olhava o movimento de fora, a fofoca, enfim os intelectuais sabiam que estavam frequentando um ambiente que ia entrar para a história do Amapá.
O poeta Isnard Lima declarou, em um artigo que escreveu para um jornal de Macapá, que foi no Bar caboclo que foi acometido de sífilis pela primeira vez.
O FIM DO BAR
Abrão diz que com o aparecimento do Plano Cruzado ficou sem condições de trabalhar devido à crise financeira.
“A crise me pegou de jeito e tive que fechar o negócio”, lamentava. O velho Bar Caboclo foi alugado então ao comerciante Edivar Juarez que lá montou a loja Discão Sucesso. Foram anos de trabalho insuficientes para dar a Abrão a vida de homem rico. A história do bar Caboclo hoje é enredo de peça teatral. O que não é de agrado daquele que foi proprietário do bar. “Ninguém veio me procurar para saber da história. Tudo foi desvirtuado e é compreendido como fato verídico. Isso não poderia ter acontecido”, enfatizava.
Na época da entrevista (1995) Abrão residia na avenida Iracema Carvão Nunes, em frente a caixa Econômica. Dividia uma casa simples com uma filha de criação e a esposa, Mirian Fonseca de Castro, que trabalhou também no bar, ao lado do marido, e na época (95) vivia em uma cadeira de rodas compartilhando com Abrão as memórias dos velhos tempos.
Com o fechamento do bar caboclo, as prostitutas passaram a frequentar o Bar do Chico que dificilmente era chamado pelo nome. As pessoas sempre se referiam ao ponto como se ali fosse o bar caboclo. O sobrado foi demolido para a construção de uma loja comercial. As prostitutas nada puderam fazer para evitar o fechamento. Mas prepararam uma feijoada para dar adeus a uma história onde foram as personagens principais. (Pesquisa de Rogério Castelo - blogueiro do Amapá)
Fonte: Matéria extraída do blog Amapá, minha amadaterra!!!, postada em 27 de maio de 2011, por Rogério Castelo, devidamente editada, adaptada e atualizada para ser reproduzida no blog Porta-Retrato.

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